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TRANSFORMAÇÃO
DO PASSADO EM PRESENTE
Vamos
continuar a nossa conversa sobre a luz? Há
muitas outras coisas interessantes a se
falar sobre ela e seus efeitos,
principalmente quando o foco é a
astronomia. Pode se dizer que é possível
viajar no tempo através da luz.
Preparados para novas descobertas? Então,
vamos lá...
Lembra
que a luz não é instantânea? Pois, o
raio luminoso é como um correio trazendo,
não notícias escritas, mas a fotografia,
ou mais rigorosamente ainda, o próprio
aspecto do lugar donde sai. Vemos esse
aspecto tal qual era no momento em que os
raios luminosos enviados de cada um dos
pontos do lugar saíram de lá. Quando
examinamos ao telescópio a superfície de
um astro, não a vemos tal qual ela é no
instante em que a observamos, e sim tal
qual era ao tempo em que a luz, que ora
nos chega, foi emitida pela dita superfície.
Em
uma palavra, os raios de luz que as
estrelas nos enviam não nos chegam
instantaneamente, e sim empregando um
certo tempo em transpor a distância de
separação, não nos mostrando as
estrelas tal qual são agora, mas tal qual
eram por ocasião em que partiram esses
raios de luz transmissores do respectivo
aspecto. Aí está uma surpreendente
transformação do passado em presente.
Para o astro observado, é o que já se
passou, o já desaparecido; para o
observador, é o presente, o atual. O
passado do astro é rigorosa e
positivamente o presente do observador. E
porque o aspecto dos mundos muda de um ano
a outro, e mesmo da véspera para o dia
seguinte, pode-se representar esse aspecto
igual a um escapamento no Espaço avançando
no Infinito para se revelar aos olhos dos
longínquos contempladores. Cada aspecto
é seguido de um outro e assim
sucessivamente; e, na forma de série de
ondulações, levam ao longe o passado dos
mundos, que se torna presente aos
observadores escalonados na sua passagem.
Isso que cremos ver presentemente nos
astros, já se passou, e o que lá está
ocorrendo, nós não o vemos ainda.
Este
é um fato real, por isso que nos
interessa muito apreender tal marcha
sucessiva da luz, e compreender com exatidão
essa verdade: o aspecto das coisas, quando
trazido pela luz, apresenta essas coisas,
não tal qual elas são presentemente, mas
tal qual eram anteriormente, segundo o
intervalo de tempo necessário para que a
respectiva imagem, assim trazida, percorra
a distância que delas nos separa.
Não
vemos astro algum qual é no momento, mas
qual o era no instante em que dele saiu o
raio luminoso que nos chega. Não é o
estado atual do céu que nos é visível,
mas a sua história passada. Há mesmo
astros que não existem mais, desde há
dez milênios, e são vistos ainda, porque
o raio luminoso deles saiu de lá muito
tempo antes da sua destruição. Algumas
estrelas duplas podem não existir mais,
desde quando começaram a haver astrônomos
sobre a superfície da Terra. Se o céu
visível fosse aniquilado hoje, seria
visto ainda amanhã, e ainda no ano próximo
e ainda durante um século, um milênio,
cinco, dez milênios e por mais,
excetuadas apenas as estrelas muito próximas,
que se extinguiriam, sucessivamente, à
proporção do decurso de tempo necessário
para que os respectivos raios luminosos,
delas emanados, transpusessem a distância
que nos separa: Alfa do Centauro
extinguir-se-ia primeiro, em 48 meses, Sírio
em 120 meses etc.
Até
para sabermos que o mundo acabou, a notícia
chegaria atrasada!!! Agora, quando você
olhar para o céu, já sabe que na verdade
estamos fazendo arqueoastronomia. Astrônomos
são como Indiana Jones do Espaço!
Artigo
do mês de novembro da Revista de Ciência
On-line: http://www.cienciaonline.org/
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