Um
dos assuntos mais interessantes estudados
por geólogos é aquele referente à
estrutura da Terra e as transformações
que ocorrem no planeta. A maior parte dos
processos de mudança, principalmente
aqueles de abrangência global, são
operados tão lentamente que os mesmos não
são perceptíveis numa escala de tempo
humano. Mas eles ocorrem de forma inexorável
transformando a paisagem da Terra.
Forças
internas do planeta agindo durante bilhões
de anos elevam grandes massas rochosas
(Cordilheira Andina e Alpina), dobram
duras camadas de rocha e conseguem mesmo
separar e mover continentes e abrir
oceanos, rearranjando o mapa do mundo.
Periodicamente, o homem se dá conta das
forças extraordinárias do planeta, cuja
magnitude pode ser avaliada nos grandes
eventos dos terremotos, durante os quais
grandes fendas se abrem no chão, prédios
inteiros são destruídos, pontes e
viadutos são levantados, suas estruturas
de aço distorcidas, e alterações
imponentes ocorrem na superfície dos
terrenos num curtíssimo espaço de tempo.
Do mesmo modo, erupções vulcânicas
modificam rapidamente a paisagem, criando
ou destruindo montanhas. Essas forças endógenas
do planeta são responsáveis pela dinâmica
presente na crosta terrestre. A Figura 1
mostra um perfil esquemático ilustrando
os processos derivados do movimento das
placas tectônicas na superfície do globo
terrestre.
A Teoria das Placas Tectônicas, na qual a
superfície da Terra (Litosfera) está
dividida em placas relativamente finas
(contendo continentes ou não) que se
movem e se chocam, provocando terremotos,
erupções vulcânicas e formando cadeias
montanhosas, é fruto da capacidade
imaginativa e científica de figuras
importantes do mundo geológico.
A
idéia de uma movimentação relativa
entre os continentes pode ser inicialmente
encontrada nos escritos de Francis Bacon,
datados de 1620. Bacon impressionou-se com
o fato de que o contorno da costa leste
americana casava quase que perfeitamente
com o contorno da costa oeste da África e
Europa.
A hipótese de uma possível deriva
continental (continental drift) foi
apresentada ao conhecimento público no
começo do século XX pelo meteorologista
alemão Alfred Wegener. Ele baseou-se
principalmente em estudos e evidências de
natureza climatológica para justificar a
Teoria da Deriva Continental. Analisando
registros paleoclimáticos nos diversos
continentes, notou que nos Períodos Geológicos
do Carbonífero (345 milhões de anos atrás)
e Permiano (280 milhões de anos atrás),
a África, a Austrália, a Antártica, a
América do Sul e a península da Índia
encontravam-se em período glacial. No
mesmo Tempo Geológico, os grandes depósitos
de carvão mineral estavam sendo formados
na América do Norte, Europa e Ásia, e
condições desérticas prevaleciam em
toda a região norte. Os depósitos de
carvão e os desertos são indicativos de
clima quente, que ocorrem hoje em regiões
tropicais e equatoriais. Aquelas condições
climáticas não poderiam ser explicadas
pela atual disposição espacial dos
continentes, a não ser que os mesmos
estariam sofrendo um movimento de deriva
relativa. Wegener tentou demonstrar que ao
se agrupar todos os continentes (Figura 2)
numa única massa continental (Pangea), no
Período Permocarbonífero, com a América
do Sul bem próxima ao Pólo Norte,
poder-se-ia explicar a condição climática
glacial reinante nos continentes
anteriormente indicados.
Da
mesma forma, pelo arranjo proposto, a América
do Norte, Europa e Ásia estaria
localizados em zonas paleoclimáticas
tropicais próximas à linha do Equador.
Wegener publicou seus estudos em 1915
"A origem dos continentes e
oceanos", mas não conseguindo
explicar que forças seriam capazes de
mover imensos blocos continentais, e com a
sua morte em 1930, a Teoria da Deriva
Continental foi posta em esquecimento.
Com
os avanços científicos que se seguiram
decorrentes do desenvolvimento de novos
instrumentos e tecnologias de investigação,
a partir da metade do século, pode-se
constatar novas evidências geológicas
indicativas do movimento das placas
terrestres. A descoberta e os estudos
realizados ao longo das Cadeias Meso-oceânicas
(oceanic spreading ridge) que constitui um
sistema contínuo de elevações do piso
oceânico, com forte atividade sísmica e
vulcânica, por exemplo a Cadeia Meso-Atlântica,
que se extende continuamente quase
exatamente no centro do Oceano Atlântico,
deu margem ao desenvolvimento da Tese de
Expansão do Fundo Oceânico. Pode-se
dizer que a Teoria de Placas Tectônica é
fruto dos estudos de Deriva Continental e
dos estudos da Expansão do Fundo Oceânico.