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INTELIGÊNCIA
VEM DO BERÇO?
Resposta do Prof. Jorge
Quillfeldt, do Departamento de Biofísica
- IB/Ufrgs
Pergunta - O que é
inteligência?
Resposta - Inteligência
é um daqueles atributos que, quando
exibido por alguém, é evidente para a
maioria das pessoas, senão todos.
Capacidade de adaptação ao ambiente,
capacidade de sobrevivência, capacidade
de aprendizagem, capacidade de raciocínio
associativo-criativo e/ou pensamento
abstrato - são muitas e variadas as
definições. Há quem prefira contrastar
inteligência com seu oposto, o instinto,
o inato, mas isso só realça a
importância da capacidade de aprender.
Aprender e criar talvez seja o binômio
que melhor defina esta qualidade. Todos
podem aprender e conhecer, mas sabedoria
não é sinônimo de inteligência. Todos
também podem criar, mas alguns saberão
fazê-lo melhor que outros. No componente
criatividade reside, a meu ver, o que é
mais relevante sobre a inteligência, mas
nele mesclam-se, de forma indissociável,
talentos herdados com habilidades
aprendidas, de modo que não me parece
possível distingüir qual fator é mais
importante. Existe, contudo, um
condicionante que não pode ser esquecido,
a oportunidade: embora todos sejamos
igualmente dotados (biologicamente) para
exibir inteligência, a poucos é
facultado seu pleno exercício. Os
problemas surgem quando a admissão de que
os homens possuem diferentes níveis de
inteligência é ressaltada sem se levar
em conta o histórico das oportunidades.
Isso favorece descuidos como o de concluir
que tais diferenças são imutáveis, e,
pior, deixa caminho livre para que se tome
como natural uma distribuição desigual
de direitos apenas em função destes
desníveis. Definir inteligência,
portanto, é um problema, já que há
diferentes paradigmas conceituais e - ali
inevitavelmente entrincheiradas -
diferentes posturas
político-ideológicas. Os psicólogos
têm evitado elaborar definições muito
como reação ao reducionismo
psicométrico dos promotores dos testes de
QI (este é mais um slogan que um conceito
científico). Do racismo colonial europeu
ao darwinismo social da Belle Époque, do
segregacionismo nazi-fascista e
supremacismo anglo-saxão à moderna
sociobiologia, tais teorias
enquadratórias são recorrentes. A
última e arrojada investida foi feita
pelo livro "The Bell Curve",
amontoado de preconceitos raciais
supostamente científicos. Esfriado o
entusiasmo inicial, a intelectualidade
politicamente correta pariu a
teoria-compensação da
"Inteligência Emocional",
aquilo que os naturalmente menos dotados
(negros e latinos segundo seus autores)
podem desenvolver para compensar suas
limitações... É uma teoria bastante
honesta nestes tempos de globalitarismo
(neo)liberal.
P - Que fatores
influenciam no desenvolvimento da
inteligência de um indivíduo?
R - Impossível ler esta
pergunta sem pensar, "X% de
genético, Y% de cultural". Não
acredito, contudo, que seja possível
medir tais proporções. Sem dúvida que
fatores genéticos participam, mas fatores
culturais e ambientais (incluindo
nutrição, afeto, etc) parecem ser muito
mais importantes, até mesmo decisivos.
Pode até ser uma interessante questão
científica a determinação destes
percentuais, mas me preocupam as
conseqüências sociais disso: somos uma
civilização de números e números
modulam nossas expectativas, esperanças e
também esforços. Fico pensando nos
testes de QI, com sua base
"científica" capenga, sendo
usados há gerações para
"classificar" crianças,
pré-determinando oportunidades...
P - A inteligência de
uma pessoa pode ser aperfeiçoada?
R - Essa resposta
depende da posição que cada um adopta.
Se inteligência se refere principalmente
a aspectos inatos, herdados, então tal
melhora é um problema semelhante ao do
"melhoramento genético de
bovinos". Não preciso conceituar o
tipo de pessoa que precisa acreditar nisto…
Mais interessante me parece a concepção
de que os genes dotaram a espécie Homo
sapiens sapiens da capacidade de aprender
e criar, e as culturas têm se
encarregarado de restringir seu acesso e
desenvolvimento. Partindo desta base
funcional que todos temos, não importa em
que grau, parece-me que tudo nos é
possível, inclusive construir ambientes
que permitam a maximização destas
qualidades, geração após geração,
como ocorre em muitas famílias, grupos
fechados, e até - dizem - escolas e
Universidades. Havendo oportunidades
iguais, só o livre-arbítrio da pessoa
pode limitar seu próprio crescimento.
Neste sentido, "inteligência"
é algo que pode ser sempre melhorado. Mas
isso não parece ser tarefa de um homem
só…
Texto
retirado do site
Inteligência e Q.I.: http://www.cpsimoes.net
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