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POSSIBILIDADES
DA POLÍTICA
"Muitos esperam
encontrar a política nas arenas a ela
designadas, e executada pelos agentes
devidamente autorizados: parlamento,
partidos políticos, sindicatos... Se os
relógios da política param aqui, o político
como um todo parou de funcionar" (Ulrich
Beck).
O conceito de política,
no contexto da modernidade, foi marcado
pela dicotomia esquerda-direita, e
significava ação das metanarrativas
(ideologias totalizadoras). Estas,
estabeleciam amplos e distantes objetivos
relacionados com a revolução burguesa,
ou com a socialista, cada uma, a sua
maneira, defendia o progressivismo, que
afirmava a possibilidade de se mudar tudo
para melhor. Foi neste contexto que o
parlamento, os partidos políticos e os
sindicatos, eram a expressão dos
verdadeiros agentes da política; a atuação
era reduzida à classe ou a outros
determinismos fixos, e o Estado, uma mera
agência de classe.
Este tipo de política,
estava de acordo com um tempoespaço
simples e tradicional, no qual a natureza
ou a tradição ditavam as ordens e as
metas, e uma superestrutura corporativista
e político-partidária forjava as opções
políticas, nas quais os cidadãos eram
tratados como súditos.
Porém a emergência da
condição
pós-moderna mais do que
acentuar os problemas desse contexto,
colocou novos e complexos problemas, os
quais são a expressão de um tempoespaço
destradicionalizado e de crescente "reflexividade
social", que obriga os indivíduos a
um engajamento mais amplo com o mundo, e a
tomar o destino em suas próprias mãos.
Os problemas da pós-modernidade, são
ricos, variados, heterogêneos; dizem
respeito às condições de vida dos indivíduos;
fogem da dicotomia esquerda-direita e de
suas ortodoxias, e não podem ser
resolvidos através de "políticas
redentoras" (Heller). No lugar destas
políticas, e da subordinação das vozes
às mesmas, vem à tona o poder da opinião
pública, "muito mais próxima, por
sua própria flexibilidade e fragilidade,
das demandas sociais, do que as grandes máquinas
políticas seguras de si mesmas e do seu
direito histórico de representar as
"massas""(Touraine).
Este entendimento e
valorização da política na pós-modernidade
enquanto participação coletiva na esfera
pública, com a defesa da legitimidade e
autenticidade das vozes que por longo
tempo foram caladas sob os macrodiscursos,
é expressão do movimento de desconstrução
da razão iluminista; desacredita as
burocracias especializadas e seus
representantes políticos, colocando em
xeque as categorias do pensamento político
clássico, principalmente o partido (que não
aborda os novos campos de ação), e
desideologiza o comportamento político.
A política pós-moderna,
efetivada nas ações da "política
de vida" (Giddens), da "subpolítica"
(Beck), da "antropolítica"
(Morin), ou das "micropolíticas"
(Guattari), reconhece a pluralidade
constitutiva dos sujeitos sociais e políticos,
favorecendo o surgimento de novos atores,
os quais lutam pela cidadania de forma fluída
e dinâmica, possibilitados pelos grupos e
novos
movimentos com uma estrutura decisória
descentralizada. Por isso, tornou-se condição
sine qua non para práticas democráticas,
firmando assim seu caráter inovador e
radical.
Ao contrário do que os
políticos tradicionais pensam, hoje todos
estão, de alguma maneira, positivamente (des)organizados,
e desta posição resultam as questões
sobre como viver, ou como diriam os
existencialistas, sobre "como-estar-no-mundo"
das incertezas globais, e dos
"riscos de grande conseqüência"(Giddens).
Concordando com Beck, as inovações e
decisões sobre o futuro não se originam
na classe política, mas sim nos grupos e movimentos
da política pós-moderna,
e na melhor das hipóteses, mais tarde os
partidos apropriam-se e legislam sobre as
mesmas.
Por isso as forças e
instituições políticas tradicionais estão
cada vez mais em declínio; por não
atenderem as atuais demandas sociais,
conseguiram fazer o político parar de
funcionar. Mas os relógios da política não
param aqui; estão em outras mãos,
trabalhando nas políticas de vida, das
necessidades básicas, do cotidiano, e
chamando atenção dos políticos para o
"princípio político da igualdade:
em toda a tua ação política, consideres
que todos os homens e todas as mulheres são
capazes de tomar decisões políticas"
(A.Heller).
Texto
escrito por Holgonsi
Soares Gonçalves Siqueira e publicado no
Jornal "A Razão" – 31.08.2000
e no web site
"Pós-Modernidade": http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/
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