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VISÕES SOBRE NOVAS
TECNOLOGIAS
"Eu não estou
dizendo que tudo é ruim; eu estou dizendo
que tudo é perigoso" (M.Foucault).
A explosão das novas
tecnologias (de informação, de
entretenimento e comunicação, de
reestruturação do mundo do trabalho e do
lazer), tem proporcionado um grande debate
sobre os efeitos das mesmas para o homem
pós-moderno. Este debate é marcado por
duas visões; seguindo a classificação
de D.Kellner, temos a visão dos
tecnófilos e dos tecnófobos. Os
primeiros fazendo uma apologia total às
novas tecnologias, são os otimistas sem
restrições; para eles estas tecnologias
são revolucionárias porque possibilitam
aos indivíduos imaginarem novos caminhos
que jamais foram considerados, permitindo
que os mesmos vivenciem e façam coisas
novas de forma melhor e mais rápida. Sob
esta ótica, as novas tecnologias são
apenas ferramentas que estão à
disposição dos usuários para maximizar
suas performances, e portanto o que se
considera aqui são as habilidades para
usá-las. Na Filosofia da tecnologia, esta
visão faz parte da Teoria Instrumental, a
qual afirma que a tecnologia não pode ser
ruim pois é puramente um meio que ajuda
os indivíduos a alcançarem suas metas;
sendo apenas um instrumento útil, é
neutro, não afetando qualquer outro
valor, pois está associada exclusivamente
à eficiência.
Por outro lado, os
tecnófobos são os pessimistas
tecnológicos de plantão; para eles o
avanço tecnológico é de cunho elitista,
conservador, autoritário e como sempre...
"neoliberal"(!). Com sua
concepção determinista sobre as novas
tecnologias, vêem estas como "parte
de uma invenção diabólica"
(M.Arroyo), com um exacerbado poder
deformador/destruidor das formas culturais
existentes. Associada à Teoria
Substantiva, e aos pressupostos
Heideggerianos, a visão dos pessimistas
nega a questão técnica como
possibilidade para a mudança social, e
afirma-a como desumanizadora, tornando-nos
pouco mais que objetos. Para eles, a
instrumentalização do homem e da
sociedade é um destino do qual não se
pode fugir. Poderíamos concluir então
que as novas tecnologias constituem-se num
novo tipo de sistema cultural, cuja
expansão dinâmica invade e controla,
autônoma e autoritariamente todas as
formas da vida social. Esta visão está
ganhando força no momento atual,
principalmente quando os perigos da
tecnociência tornam-se mais evidentes.
Porém uma visão
efetivamente crítica/dialética das novas
tecnologias, não ignora que elas estão
saturadas de negatividades mas também de
positividades (ou vice-versa); não
concebe a técnica de forma autônoma, à
parte da sociedade, das relações
econômicas, políticas e culturais, e sim
de forma integrada; portanto não há uma
imposição determinista sobre o social.
Isto nos faz compreender que as novas
tecnologias não colocam-nos objetos
exclusivamente técnicos, visão
cartesiana que percebe os objetos
isoladamente, esquecendo que os mesmos
constroem um sistema aberto e dinâmico,
que inserem-se conflituosamente nos
processos culturais, e que tornam-se
dispositivos pelos quais percebemos o
mundo.
O campo das novas
tecnologias é, como diz P.Lévy, "um
campo aberto, conflituoso e parcialmente
indeterminado, no qual nada está decidido
a priori". Neste campo não há
imutabilidade, mas constantemente novas
conexões imprevisíveis. Por isto, o
filósofo, o educador, o historiador ou o
sociólogo precisam ir mais longe, não
podem ficar presos a um ponto de vista, e
sim, "abrir-se a possíveis
metamorfoses" (Lévy).
Com base no pensamento
inicial de M.Foucault, e adepto das
contradições e relações, eu diria que
as novas tecnologias não são totalmente
más, ou totalmente boas, mas complexas.
Não colocam-nos um caminho linear, mas um
caminho repleto de bifurcações, nas
quais podemos e devemos tomar decisões.
As novas tecnologias podem ser usadas como
instrumentos para consolidação de um
poder dominante, como podem estar à
serviço de indivíduos que lutam pela
democracia; podem colaborar na criação
de uma sociedade mais, ou então menos
igualitária.
Se somos sujeitos ativos
neste processo, então "é mais útil
apreender o real que está nascendo,
torná-lo autoconsciente, acompanhar e
guiar seu movimento de forma que venham à
tona suas potencialidades mais
positivas" (P.Lévy). Podemos/devemos
intervir nas inovações técnicas,
reconfigurando-as para que sirvam aos
interesses de emancipação e bem-estar
humano, embora tenhamos que reconhecer que
este é o desafio mais difícil, e que
portanto não deve deixar de fazer parte
de nossos objetivos político-educacionais.
Texto
escrito por Holgonsi
Soares Gonçalves Siqueira e publicado no
Jornal "A Razão" – 02.08.2001
e no web site
"Pós-Modernidade": http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/
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