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GLOBALIZAÇÃO:
"RISCOS DE GRANDE CONSEQÜÊNCIA"
"A maioria dos
ganhos produzidos por vários séculos de
"desenvolvimento" econômico foi
invalidada pela separação entre os seres
humanos e a natureza e pela degradação
ecológica resultante"(A.Giddens).
Os "riscos de
grande conseqüência" surgiram do
impacto do desenvolvimento
técnico-industrial sem limites sobre o
homem concreto (como produtor e
consumidor), sobre a natureza e sobre a
sociedade e sua organização. Giddens
identifica quatro fontes de crise nas
quais enfrentamos estes riscos: o impacto
do desenvolvimento social moderno sobre os
ecossistemas mundiais; o desenvolvimento
da pobreza em larga escala (holocausto da
pobreza); as armas de destruição maciça
com suas possibilidades de violência
coletiva e a repressão dos direitos
democráticos. Vou referir-me neste
espaço, apenas à primeira fonte.
O "poder-fazer
técnico unilateral" (Castoriadis)
exercido sobre as coisas, não ajudou os
homens a resolverem seus problemas de
organização coletiva, mas conseguiu
degradar a natureza. Se na tradição
havia um espaçotempo certo para plantar,
para colher, para construir e para viver,
na pós-modernidade a tecnociência
demonstra sua performance modelando e
re-modelando (ou seria construindo e
destruindo?) o espaçotempo para qualquer
atividade e a qualquer momento, deste que
esta atividade seja lucrativa.
Como resultado deste
processo, nosso espaçotempo é marcado
pela emergência ou intensificação dos
problemas socioambientais globais: risco
de acidentes nucleares ou biotecnológicos,
desertificação, desmatamento, perda da
biodiversidade,etc. A esses, somam-se
outros mais recentes como o aquecimento
global e a destruição da camada de
ozônio. Por não apresentarem precedente
histórico, os desastres advindos destes
"riscos de grande
conseqüência" são imprevisíveis e
de difícil delimitação, mas podem ser
exagerados, incontroláveis e afetar a
todos.
Neste contexto, a mídia
satura-nos com notícias relacionadas à
situações de risco, que representam
signos de uma época que nada compreende,
e dizem respeito a um novo tipo de
sociedade , a "sociedade de
risco" (U.Beck); uma sociedade que
não está segura, pois desconhece as
reais conseqüências destes males
globais, e na qual vivemos em um estado
permanente de incerteza, pois o passado é
cotidianamente apagado, e o futuro é
totalmente indefinido. Esta incerteza
chama atenção para o fato de que, o
controle da ciência e da tecnologia deve
ser tão importante para as questões
ecológicas, como o controle do meio
ambiente.
Os riscos de grande
conseqüência são utopias negativas,
pois nos mostram aquilo que deveríamos
evitar. O desenvolvimento insustentável e
sua cultura técnica/performática e do
desperdício, deve ser substituído por um
desenvolvimento sustentável de enfoque
comunitário, que priorize o princípio da
eqüidade social por sobre a eficiência
alocativa, rompendo-se com a visão
tecnocrática que subordina a
participação da sociedade civil aos
mecanismos do mercado.
A falta de consenso
sobre este novo estilo de desenvolvimento,
resulta no embate entre forças
conservadoras, que insistem em tratar a
natureza de forma instrumental, mantendo
seu padrão de consumo e prosperidade (e
do qual participa apenas 20% da
população mundial), e forças
progressistas que lutam por uma
civilização socialmente justa, por
políticas econômicas que levem em conta
as questões ambientais, e por uma visão
da natureza em harmonia com os seres
humanos. Deste conflito, resultam novas e
profundas divisões entre as nações, as
classes sociais e os partidos.
Questões como o uso
mais eficiente dos recursos (no caso das
emissões de carbono), e a restrição do
consumo em nível global, colocam
urgentemente em debate o próprio conceito
de necessidades humanas; constituem a luta
de novos movimentos sociais, mas devem
ocupar o espaço da cidadania como um
todo, e fazer parte, de forma séria, de
uma educação pós-moderna crítica.
Porém as problemáticas relacionadas aos
riscos de grande conseqüência só podem
ser tratadas sob uma abordagem
interdisciplinar, pois qualquer ação
efetiva passa, simultaneamente, por
questões sócioeconômicas, culturais,
político-institucionais e ambientais.
O homem pós-moderno,
certo de seu saber, usa e abusa de tudo o
que está a seu alcance; desenvolveu um
sistema produtivista que não leva em
consideração as preocupações éticas;
pela sua intervenção, alterou
completamente a natureza, e hoje "em
vez de se preocupar, acima de tudo, com o
que a natureza poderia fazer-lhe, tem
agora que se preocupar com o que fez à
natureza" (Giddens).
Texto
escrito por Holgonsi
Soares Gonçalves Siqueira e publicado no
Jornal "A Razão" – 07.12.2000
e no web site "Pós-Modernidade":
http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/
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