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ECOLOGIA
PROFUNDA
"O novo paradigma
(uma constelação de concepções, de
valores, de percepções e de práticas
compartilhados por uma comunidade e que
estabelece uma visão particular da
realidade) pode ser chamado de uma visão
de mundo holística, que concebe o mundo
como um todo integrado, e não como uma
coleção de partes dissociadas. Pode
também ser denominado visão ecológica,
se o termo 'ecológica' for empregado num
sentido muito mais amplo e mais profundo
que o usual. A percepção ecológica
profunda reconhece a interdependência
fundamental de todos os fenômenos, e o
fato de que, enquanto indivíduos e
sociedades, estamos todos encaixados nos
processos cíclicos da natureza (e, em
última análise, somos dependentes desses
processos)." (Fritjof
Capra)
Quanto mais voltamos
nossa atenção para as grandes
dificuldades sociais de nossa época -
quando nos detemos e refletimos sobre a
grande crise em que vivemos, em todos os
âmbitos de ação do ser humano e em
todos os lugares -, mais percebemos as
falhas de uma visão de mundo
compartilhada por grande parte das pessoas
influentes, responsáveis pelo
comportamento do homem ocidental ( e que,
hoje, atinge também o homem oriental ),
como empresários, governantes e
cientistas, e mais percebemos que estas
falhas estão interligadas e não podem
ser entendidas de forma isolada, ou
linear, como peças autônomas de um
relógio.
O conjunto de problemas
que se abatem sobre as pessoas e a
natureza estão profundamente enlaçados
com uma determinada forma de se
compreender o mundo, uma percepção da
realidade que é reducionista, simplista e
inadequada e que não leva em conta
processos sistêmicos (interelacionados),
psicológicos e orgânicos (ecológicos)
presentes nos relacionamentos, no padrão
de relação, entre pessoas, entre estas e
a sociedade - e entre pessoas, sociedades
e natureza -, e muito menos valores
humanos e existenciais, formadores de
referenciais umbilicalmente ligados à
qualidade de vida da população mundial,
já que fatores ou caracteres
fenomenológicos não fazem parte do
pensamento linear-racionalista, e muito
menos se adequam em gráficos cartesianos.
A forma tradicional de
se compreender ou de se perceber a
realidade - enfim, o paradigma subjacente
a nossa visão de mundo - vem
condicionando o comportamento humano
ocidental - e todas as suas instituições
- por mais de três séculos. Ela é
constituída basicamente da idéia de que
todo o universo é uma grande máquina,
sem vida ou qualquer sentido além do de
um sistema mecânico similar ao das
máquinas feitas pelo homem, e, por isso,
dentro do fugaz período de tempo a que se
resume uma vida humana, é perfeitamente
lícito, dentro desta concepção
filosófica, que o indivíduo procure
extrair o máximo deste sistema morto, a
fim de dar um significado ao que, em
última análise, e de acordo com esta
visão, não parece igualmente ter
significado algum: a existência humana.
Daí o conjunto de caracteres típicos de
nossa sociedade industrial e capitalista:
a visão da vida em sociedade como uma
luta competitiva pela existência, a
ênfase na sobrevivência mais que na
vivência e na melhoria real da qualidade
de vida a partir do enriquecimento
interpessoal, a crença num progresso
material ilimitado num contínuo
crescimento econômico explorador de
recursos naturais limitados, o
patriarcalismo com suas várias facetas e
formas de dominação, etc.
O esgotamento, a
anti-naturalidade e a destrutibilidade
desta "visão ou concepção de
mundo" - que ainda é ardorosamente
adotada por nossos líderes políticos,
empresários, cientístas e instituições
- vêm sendo constantemente apontadas, de
modo claro, por várias pessoas desde o
início do século passado, na crítca ao
automatismo e alienação humanas
decorrentes da revolução industrial, mas
a ideologia do capitalismo, detentora dos
meios de comunicação de massa, e as
instituições econômicas, que sempre
usaram de uma gigantesca máquina de
propaganda, acabam por abafar, em parte,
este despertar de consciências, e a impor
uma ideologia propícia a mascarar e a
distorcer a percepção dos fatos e a
perpetuar um conjunto de ações
favoráveis aos seus interesses o
objetivos gananciosos, ou seja, ela
constrói toda uma "realidade"
ficcional e alienante, embotando o senso
crítico das pessoas, a fim de perpetuar a
estrutura de poder que lhe é mais
aprazível.
Mas o nível de
agressividade deste paradigma e desta
ideologia contra o sistema vivo
"Terra" vem sendo tão
estupidamente trágica, que já não é
mais possível fechar os olhos ante à
degradação sócio-ambiental que nosso
moderno mundo industrial tem promovido, a
não ser que o grau de alienação tenha
chegado a tal ponto que embotou até mesmo
o sentir a dor que as misérias de nossa
civilização tecnicista tem causada à
natureza e aos homens. De todos os cantos
do planeta vemos os efeitos nocivos da
forma materialista (filosofia altamente
calculada para fazer parte dos hábitos de
consumo da população) e pretensamente
racional (esquecendo-se da sabedoria
organísmica e intuitva) de ver o mundo, e
os efeitos são:
o crescimento
desordenado da população mundial,
especialmente entre os países mais pobres
(entre os quais se inclui o Brasil da era
Neo-Liberal do vaidoso neo-imperador FHC),
que é a resultante direta do crescimento
das dificuldades sociais que impedem a
educação básica que muito auxiliaria no
planejamento familiar, aliás problema que
aponta para o descaso que nossos
políticos têm em pensar em termos
sistêmicos e a longo prazo, e fazem da
educação, como um todo, na prática, uma
temática supérflua diante do ideal,
basicamente industrial, de que o
crescimento e riqueza de uma nação são
medidos pelo crescimento linear da
economia, que se concentra nas mãos de
poucos, e de que um alto PIB é sinônimo
de bem-estar social. Ora, sendo assim
basta que a educação básica inculque os
valores e os hábitos de um mundo
industrial.
A escassez de recursos,
a bizarra e surreal distribuição de
renda e a degradação do meio ambiente a
fim de saciar a ânsia de crescimento
econômico dos empresários, e/ou - por
meio da exploração irracional dos
recursos humanos e naturais - para o
pagamente da dívida externa ou para
cobrir o rombo de instituições
financeiras incompententes, parasitárias
ou corruptas que combinam-se com uma
crescente miséria moral e física de
nosso povo, numa alienação política de
causar dó, e a uma completa falta de
senso crítico e valores humanistas que
levam ao colápso das comunidades locais e
à violência urbana que se tornou uma
característica básica de nossos tempos.
E toda a máquina da ideologia de consumo
e do crescimento de lurcros se põe, de
forma drástica, contra tudo e todos que
se levantem para questioná-la. Ainda nos
está bem forte na memória o descaso ou a
manipulação a ideías de homens como
Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Betinho,
Florestan Fernandes, os teólogos da
Teologia da Libertação, os camponeses do
MST, etc.
Existem soluções
viáveis para os principais problemas
sociais, mas o grande nó da questão
está em mudarmos a nossa percepção
individualista e egoísta e nossos valores
burgueses em prol de um desenvolviemento
sustentável, o que atinge em cheio a
estrutura do poder e do sistema
político-econômico de boa parte dos
países, e, ainda mais, no Brasil, onde
todos sabemos das desigualdades de todo o
tipo entre os que tudo tem e os que nada
tem, a grande maioria, e onde recai a
maior parte do peso e da hipocrisia dos
sistemas institucionais estabelecidos a
princípio, ironicamente, para o bem do
povo.
E, de fato, começamos a
ver, cada vez mais amplamente em todo o
mundo, principalmente na Europa, uma
gradual mas inveitável mudança de
paradigma na ciência e na sociedade, a
partir das pessoas comuns, de estudantes,
da base, e não mais de autoridades ou
orgulhosos experts diplomados em
fragmentos do conhecimento humano. Mas
esta nova compreensão ainda está longe
de ser sequer pensada pela maioria dos
líderes políticos, e, ainda menos, pelos
empresários.
O reconhecimento de que
é necessária uma profunda e radical
mudança de percepção e de metas para
garantir a nossa sobrevivência e a das
demais espécies vivas que compartilham
conosco, em estreita correlação, a
odisséia terrestre não é feito pelos
detentores do poder político e econômico
que, aliás, a vêem como uma ameaça à
estrutura que os sustenta. Eles sabem que
os diferentes problemas estão
interrelacionados, mas se recusam a
reconhecer e adotar as chamadas soluções
sustentáveis, preferindo fechar os olhos
para não ver as conseqüências de suas
atividades para as gerações futuras. A
partir de um ponto de vista sistêmico, as
únicas soluções viáveis são as
soluções "sustentáveis", em
que uma sociedade satisfaz suas
necessidades sem diminuir as perspectivas
das gerações futuras, como é comum de
se vê nas chamadas "sociedades
primitivas", como as indígenas, sem
a carga intrometida da civilização
branca. Nossa civilização se orgulha de
seu racionalismo, mas o racionalismo é
usado para justificar comportamentos
profundamentes irracionais e
antiecológicos, num mecanismo
justificador de racionalização. Ora, já
não seria a hora de nos lembrarmos de que
a humanidade, através da história,
sempre se orgulhou do mais coração que
da razão? Não é daí que vem o termo
" fulano é humamo", e outros
semelhantes?
Existe um movimento de
despertar para o fato de que as ações
industriais, técnicas e altamente
mecanicistas de nossa sociedade
materialista está causando um sério
abalo na qualidade de vida dos homens e
demais seres vivos que constituem a
biosfera. E movimentos como os do Green
Peace, os dos vários partidos verdes e a
ampla aceitação e debates de assuntos
ecológicos, como na Rio-Eco 92, parecem
ser "sintomas" de uma gradual
mas cada vez mais irreversível
consciência de que todos nós fazemos
parte de uma teia frágil, linda e muito
mais profunda do que nos fazem crer nossas
estruturas científicas e comerciais...
fazemos parte da teia da vida que consitui
um enorme organismo vivo e hoje seriamente
ameaçado pela ganância e sede de poder
de órgãos econômicos, industriais,
políticos, científicos e religiosos,
todos voltados para o conquistar e o
manter o poder, quer seja material, quer
seja ideológico. Mas há uma
movimentação interna visível contra
tudo isso, afinal somos células e nervos
de Gaia, a Terra viva, e esta nova
percepção Holísitica, sistêmica ou
interrelacional entre todas as coisas que
nos cercam, é chamada de Ecologia
Profunda.
O filósofo Arne Naess
caracterizou da seguinte forma a Ecologia
Profunda: "A essência da ecologia
profunda consiste em fomular questões
mais profundas", e, segundo Fritjof
Capra, é essa também a essência de uma
mudança de paradigma: "Precisamos
estar preparados para questionar cada
aspecto isolado do velho paradigma.
Eventualmente, não precisaremos nos
desfazer de tudo, mas antes de sabermos
isso, devemos estar dispostos a questionar
tudo. Portanto, a Ecologia Profunda faz
perguntas profundas a respeito dos
próprios fundamentos da nossa visão de
mundo e do nosso modo de vida modernos,
científicos, industriais, orientados para
o crescimento e materialistas. Ela
questiona todo esse paradigma com base
numa perspectiva ecológica: a partir da
perspectiva de nossos relacionamentos uns
com os outros, com as gerações futuras e
com a teia da vida da qual somos
parte" (Capra, 1997, página 26).
Autor: Carlos Antonio
Fragoso Guimarães. Artigo
retirado da pagina: http://geocities.yahoo.com.br/carlos.guimaraes/transpessoal.html
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